Em nossa jornada pessoal e profissional, alcançamos marcos, superamos desafios e, por vezes, nos encontramos em posições de sucesso e estabilidade. No entanto, mesmo diante de conquistas evidentes, uma dúvida incômoda pode surgir: “Será que eu realmente mereço isso?”. Esse sentimento de não merecimento, ou a dificuldade em abraçar plenamente a felicidade e o sucesso, é mais comum do que imaginamos e pode sutilmente sabotar nossas escolhas e nosso bem-estar.
O jogo de forças: negociando seu valor em tempos de mudança
Imagine “Marcos”, um profissional que trabalha em uma empresa está reestruturando operações. Ele recebe uma oferta de recolocação considerada injusta, enquanto tem outra proposta promissora em vista. A decisão racional seria buscar o melhor acordo, mesmo que isso envolva alguma inconveniência temporária. Contudo, a dúvida sobre o merecimento pode entrar em jogo.
Será que ele merece lutar pelo que é justo? Ou deveria aceitar a oferta menor por comodidade, talvez por sentir, inconscientemente, que não merece mais?
Reconhecer o próprio valor e defender seus interesses em negociações, mesmo sob pressão, é um ato de autoestima. Ceder a táticas empresariais questionáveis por medo ou por não se sentir merecedor pode gerar ressentimento e frustração a longo prazo. A história de Viktor Frankl, que encontrou sentido e dignidade mesmo nas piores condições, nos lembra que nossa atitude interna diante das circunstâncias é uma fonte poderosa de força.
Eu mereço isso? Desafiando crenças limitantes sobre sucesso
De onde vem a sensação de não merecimento?
Muitas vezes, ela está enraizada em experiências passadas, mensagens internalizadas na infância ou comparações sociais.
Talvez Marcos tenha ouvido críticas sobre ser “bobo” ou “improdutivo” e, apesar de seu sucesso atual, ainda carregue essa autoimagem negativa. Ou talvez ele se compare a um parente que considera “mais merecedor”.
Essas crenças limitantes funcionam como um teto invisível, impedindo-nos de desfrutar plenamente nossas conquistas ou de buscar novas ambições. Questionar ativamente essas crenças é fundamental. Merecimento não é algo que se conquista por ser “perfeito” ou “especial”; é um direito inerente a todos. Permitir-se sentir alegria, satisfação e orgulho pelo próprio esforço e conquistas é essencial para o bem-estar psicológico.
Para além do trabalho: encontrando sentido na jornada, não apenas no destino
A pressão por encontrar um “propósito de vida” grandioso pode, paradoxalmente, aumentar a sensação de inadequação se não o encontramos.
Marcos reflete sobre isso: será que sua vida só terá valor se ele encontrar uma missão transcendente?
A busca por sentido, como propõe a psicologia existencial, é diferente. O sentido pode ser encontrado nas conexões humanas, no prazer das pequenas coisas, no aprendizado contínuo, na contribuição que damos ao nosso redor, mesmo que não seja “especial” em escala cósmica.
Redefinir o sucesso não apenas como conquistas externas (dinheiro, status), mas como uma vida vivida com autenticidade, conexão e significado pessoal, pode aliviar a pressão e abrir espaço para uma satisfação mais profunda e duradoura, independentemente de se encontrar ou não um “propósito” com P maiúsculo.
Conclusão
O sentimento de não merecimento é um obstáculo silencioso que pode minar nossa felicidade e sucesso. Ele nos leva a aceitar menos do que valemos, a duvidar de nossas capacidades e a ter dificuldade em encontrar satisfação genuína.
Desafiar essas crenças limitantes, reconhecer nosso próprio valor, celebrar nossas conquistas e buscar sentido nas experiências cotidianas são passos cruciais para superar a autossabotagem.
Merecer ser feliz e bem-sucedido não é uma questão de ser especial, mas de permitir-se viver plenamente a vida que se construiu, com todas as suas complexidades e potenciais.
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